Na segunda parte de O Contador de Histórias quero deixar claro que o título não é nenhuma provocação, mas sim uma afirmação de quem é Noel de Carvalho, um grande contador de histórias, que leva a plateia atenta das vaias aos aplausos mais calorosos em minutos e poucas pessoas tem esse dom. O dom de perceber e conhecer as pessoas, tocando fundo. Noel tem esse dom.
Em entrevista (que está gravada) concedida ao Renova Resende, Noel mais uma vez ilustrou a sua resposta de como é possível se renovar e como levou a Educação do Rio ao primeiro lugar no Brasil.
Comitê Suprapartidário Renova Resende: Resende é uma cidade que mostra sempre o desejo de renovação. Qual a sua concepção de renovação?
Noel: Eu acho que todos nós nos renovamos todos os dias. E quando eu fui candidato a prefeito na primeira vez com vinte e três anos, a segunda com trinta e três anos a grande crítica que se fazia a mim foi que eu era muito jovem. A resposta que eu dei estava embutida em um slogan sugerido pelo meu tio Frederico (já falecido). Dizia: “Competência não tem idade!”. E quando eu lancei este slogan com a minha foto no cartaz eu recebi uma carta do doutor Jardim, que era pai do doutor Nilo Jardim. Ele tinha oitenta e quatro anos na época e escreveu uma carta linda. Tocado pela minha afirmação de que competência não tem idade. Eu sou rigorosamente favorável a renovação perpétua, porque isso é inerente a vida. A vida é assim. Todos os dias ela se renova e eu conheço poucas pessoas capazes de compreender isso. De lutar por isso como o tal do Noel de Carvalho.... Eu me fundamento nas questões de princípios. Essas são permanentes. Não precisam ser renovadas. O sentimento de solidariedade, sensibilidade. Lembro que um dia, quando tinha eu saído da prefeitura de Resende (tinha acabado o mandato) e fui pra casa esgotado. Cheguei em casa e disse pra minha mulher. “vamos dar uma sumida aí de um cinco, seis dias, porque eu estou esgotado e não aguento mais”. Liguei a televisão e vi uns vinte mil professores, alunos e diretores no noticiário fazendo uma passeata na Avenida Rio Branco (no Rio de Janeiro), com um enorme dinossauro com a cara do Brizola, escrito no peito dele “Brizossauro”. Eu pensei, puxa, coitado do Brizola. Não queria estar no lugar dele. Logo ele que gosta tanto de educação. Isso aconteceu porque o Rio de Janeiro tinha tirado zero em educação e ficou em último lugar no ranking nacional. Hoje o Rio está em penúltimo lugar. Só perde para o Piauí. Naquela época o Rio estava em último e eu olhei aquela noticia e fiquei arrasado. No dia seguinte comprei os jornais e eles estavam descendo pau com cinco, seis páginas falando mal por causa da nota zero. Eu pensei. Coitado do Brizola. Não queria estar na pele dele. Meio dia mais ou menos a recepcionista do Hotel Três Pinheiros, onde eu nasci e onde moro, disse-me que o governador Brizola queria falar comigo. Atendi o telefone ele perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim e ele disse “Noel. Eu estou precisando que tu venhas trabalhar comigo. Você pode?”. Eu respondi: “Posso governador”. Ele: “Tens condições de assumir imediatamente?”. Respondi: “Sim. Acabou meu mandato de prefeito ontem. Eu vou descansar uns cinco dias e estou a sua disposição pra qualquer coisa”. Aí ele me disse: “Mas Noel, não pode ser daqui a cinco dias não tem que ser imediatamente”. Eu disse: “Então tá bom!”. Ele falou: “Pode ser amanhã?”. “pode”- respondi. Aí ele falou: “Então eu vou pedi para o Siqueira Castro (Chefe da Casa Civil da época), para ligar pra você porque eu estou indo viajar para Nova Iorque, porque a Neuza está morrendo”. Choramos o drama dele e ele disse: “Então afia este teu facão e boa sorte”. Eu falei: “Mas governador, o senhor poderia me dizer em que eu vou trabalhar, só pra eu me preparar psicologicamente. Já que não tenho tempo de me preparar de outra forma”. Aí ele disse: “Você vai ser Secretário Estadual de Educação”. Eu fiz um silêncio e ele indagou: “Algum problema Noel?”. Eu respondi: “Se o senhor tivesse me chamando pra ser governador eu teria menos problema, porque eu não sou professor e a última vez que eu estive na escola eu fui reprovado. Eu nunca fui bom aluno. A imprensa pode cair de pau em cima do senhor”. Agora por outro quando eu estive prefeito a cidade de Resende foi premiada em educação pela ONU, Unesco, Unicef. Editaram um livro intitulado “Educação, a experiência de Resende”. Por conta das coisas legais que fizemos aqui na educação. A gente inventou aqui o chamado “reforço escolar”, num seguinte raciocínio. Um pai não abandona seu filho quando anda na rua, não é mesmo. Se ele anda e a criança não consegue acompanhar, ele pega pela mão. Se ela ainda não consegue acompanhar, ele pega no colo. Então se ao final de uma aula o professor com quarenta alunos, sentisse que quinze deles não teria acompanhado a aula e entendido ele dispensa os outros vinte e cinco, almoça na escola. Ganhavam o salário dobrado e seguravam os alunos na escola, que também almoçariam lá, para o reforço escolar naquela matéria. O índice de reprovação caiu quase a zero e o de evasão escolar caiu a zero, pois o maior fator da fator da evasão escolar é a reprovação. Pois bem, quando eu disse isso o governador falou: “Então Noel eu não estou te chamando pra ser Secretário de Educação. Estou te chamando pra ser o prefeito da Secretaria de Educação”. Disso eu entendo e aceitei. Chegando lá, encontrei todo mundo de luto e dois caminhões de som, me xingando, porque eu estava assumindo e foi nesse clima que cheguei. Onze meses depois a revista Veja que tinha me batido o tempo todo fez uma matéria, colocou uma foto minha na capa com o título: “Dez para o reprovado”. Porque quando aluno na escola eu fui reprovado e como secretário de educação eu tirei nota dez. Levei o Rio de Janeiro de nota zero à nota dez. De último lugar a primeiro no ranking nacional. E foi um trabalho a curto prazo. Não foi um planejamento para cinco, dez anos não. Foram apenas onze meses. E o que eu entendo de educação? Nada! Eu só tenho um pouco de sensibilidade e humildade para ouvir quem entende. Foi isso que eu fiz. Isso é uma forma de renovação. Não é preciso eu me renovar, eu só preciso é ouvir aquelas pessoas que se renovam e se atualizam a cada dia.
Palavras de Noel de Carvalho
Transcritas por Leandro Resende
Noel de Carvalho implantou o ensino profissionalizante no Colégio Getulio Vargas, para capacitar os jovens resendense e fez convenio com SESI, facilitando a chegada no mercado de trabalho.Os professores viveram um grande momento de entendimento, com seus colegas da rede estadual.A UERJ chega a Resende: ensino universitário gratuito para todos e a criação de um curso de Engenharia de Produção (baseado em similar da Alemanha) que formou os primeiros engenheiros da Volkswagen.
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