sábado, 29 de setembro de 2012

CAPITAL NA EXAPICOR HOJE


O 12º disco de estúdio do Capital Inicial, este Das Kapital, é o segundo renascimento do grupo em 28 anos de carreira. E, quais rebeldes incorrigíveis, a cada renascimento ousam mais.
Abro a conversa com o vocalista Dinho Ouro Preto com essa afirmação e ele solta a gargalhada característica.
Se não, vejamos.
Na volta aos estúdios, decidiram que em time que está ganhando se mexe, sim. Trocaram cenógrafo, conceito de palco (saiu o retrô e entrou o high-tech), diretor de videoclipes, parceiros e, principalmente, o produtor. Marcelo Sussekind, que trabalhava com eles desde que se conheciam por banda, dá lugar a David Corcos, que já produziu de Marcelo D2 a Seu Jorge.
O resultado foi uma abertura inédita de espectro dentro do estilo próprio que o Capital Inicial criou na discografia do grupo. Tem remissão a punk 77 e rock anos 00 norte-americano (“Ressurreição”), power pop com ênfase no pop (“Depois da Meia-Noite”), rock dançante inglês contemporâneo (“Como se Sente”), baladas de piano (“Eu Quero Ser Como Você”), power pop com ênfase no power e acordes abertos e maiores (“A Menina que Não Tem Nada”) e até climão de rock de arena (“Vivendo e Aprendendo”).
O ingrediente subtraído na receita é simples – aquela sonoridade de vocais altos e instrumentos comprimidos do Bê-rock, formulado na explosão do gênero por aqui. O trabalho ganha em frescor. E coesão.
“O engraçado é que o David (Corcos) adora heavy metal dos anos 80, e isso traz novas informações ao som”, comenta Dinho.
- “E certamente traz também os riffs e solos de guitarra que permeiam o ‘Das Kapital’”, provoco.
“O Capital é isso ao vivo. Entramos em estúdio e ensaiamos juntos por três meses. Os arranjos foram feitos em conjunto. O disco fica com mais unidade desse jeito. E surgem riffs, os solos”, devolve Dinho.
Na mesa de som, a programação fluiu. O vocalista chegou com duas dezenas de músicas compostas, e “o David pinçou as que achou melhores e falou: ‘quero gravar esta, esta, esta…’ E para mim o que entrar está ótimo”.
Nem sempre foi assim. Como colocado na abertura deste texto, o Capital viveu bem como quarteto original – os irmãos Fê (bateria) e Flávio Lemos (baixo), o guitarrista Loro Jones e Dinho – entre 1984 e1993, quando o vocalista abandonou o barco, o que, se não o afundou, ao menos o tirou de vista no horizonte.
Na volta da formação original, cinco anos depois, em vez de ancorarem em greatest hits, foram pra Nashville, nos EUA, e gravaram um disco de inéditas, Atrás dos Olhos. Retomaram a carreira praticamente da casa 1 do tabuleiro – aí o primeiro renascimento e a ousadia. Passaram por nova mudança quando Loro saiu e para seu lugar foi chamado Yves Passarell.
E o passo além, desta vez, após o recesso da banda com a internação e recuperação de Dinho, veio em toda a equipe e conceito, conforme relatado, mas principalmente no som. Ou por outra: nas nuances. Das Kapital é um disco com mais brilho, com suor mais evidente, por vezes com chimbau aberto e pé no retorno, em outras, com marcação dramática em piano. Na equação, algo de que o grupo se orgulha mesmo – a manutenção do estilo próprio.
“Variedade (de gêneros) não significa talento. Bandas que amo, como AC/DC e Ramones, fazem e fizeram a mesma coisa sempre. Mas tem um rock dos anos 70, do qual bebi muito, de Led Zeppelin, Deep Purple, com essa característica de variedade na composição. Led Zeppelin fez até reggae (‘D´yer Mak´er’)”, narra Dinho.
“Mas existe um ponto que nos é muito valioso, o de ter atingido uma sonoridade própria. Antes mesmo de ouvir o vocal, você já sabe que é o Capital Inicial”, completa.
Verdade.
Enquanto trafegamos em universo de bandas brasileiras com referências a Police, Smiths, Sublime, torna-se a caça do pêlo em ovo encontrar um similar gringo do Capital.
Isenção estrangeira que não foi incorporada no título desta vez, referência à bíblia marxista O Capital. Uno a pergunta às letras do disco, que explicitamente tratam de valores (não econômicos, claro), e à capa, com os quatro em um pregão de Bolsa.
Dinho assume seu lado frontman neste ponto. Abre o computador e diz que vai mandar um texto que escreveu sobre esse conceito de capital e valores. Extraí e reproduzo o trecho que melhor resume:
“Reunir o nome Capital Inicial com o título do mais importante livro de Karl Marx e, ainda por cima, fazer as fotos da capa na Bolsa de Valores nos pareceu uma piada irresistível. Uma coisa mais pra Groucho do que pra Karl… Mas, embora o humor tenha servido de inspiração, a combinação entre o título, nosso nome e a foto serve também de pretexto para uma pequena discussão sobre valores”, relata melhor do que eu conseguiria explicar.
E dá tempo de ouvir ainda uma canção com aquela sonoridade de cordas de aço (“Não Sei Porquê”), um rock pesadão com cavalgada quase metal de guitarra (“Melhor”), a música mais longa (3m52s) e climática do trabalho (“Eu Sei Quem Eu Sou”), um aclive em peso e vocal agressivo (“Marte em Capricórnio”) e um arremate com introdução marcada.
Levanto a bola e comento que as faixas vão passando e a cada música que entra a elejo como a melhor polaróide do álbum. Ele aconselha: “Mas pode reparar que ainda assim conseguimos experimentar sem sair de nosso próprio mundo”. E a lição que fica é: independente do gênero (a, o, das, rock, pop, metal), valores são valores.

Horário do Show: 00:00h


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