Já é quase consenso que não existe mais time bobo no futebol. Que o diga o Internacional de Porto Alegre, que perdeu para aquele time africano cujo goleiro tinha um motorzinho na bunda. O Corinthyans também foi vítima recente de um desses ex-bobos. Sem contar o Flamengo, que caiu de quatro, dentro do Engenhão, para um até então pouco expressivo time chileno. E na política, ainda existe eleitor bobo? No Pará, por exemplo, eles ainda existem, mas já fazem parte da minoria. O “NÃO”, dado à divisão do estado, deixou isso bem claro.
Analisando o jornal de propaganda política do governo Rechuan, distribuído no final do ano passado, tive dois sentimentos imediatos: o governo Rechuan, apesar dos esforços para manter a cidade com boa aparência, não está à altura dos desafios que Resende terá pela frente; segundo, os propagandistas do governo devem estar achando que o eleitor de Resende é bobo. O problema maior não é o que foi publicado, mas como foi publicado, além das inconcebíveis omissões. No que foi publicado, por que o governo não deixa claro o que foi feito com verba do município e o que foi feito com verba estadual e federal. Assim, seria mais fácil para o eleitor e cidadão de Resende saber onde e como estão sendo aplicados nossos recursos. O nome disso é transparência. O governo do estado, por exemplo, investiu muito em todos os municípios fluminenses, independentemente da coloração partidária dos prefeitos. Em Resende, não foi diferente. Mérito do governador Sergio Cabral. Onde e como foram aplicados os recursos municipais para neutralizar o forte impacto social, ambiental e econômico que Resende tem pela frente? Esta é a pergunta que não quer calar. O prefeito Rechuan disse, na cerimônia de lançamento do “conselhão”, que Resende terá, nos próximos oito anos, a sua população aumentada em mais 80.000 habitantes. Isso, apenas em conseqüência da vinda da Nissan. Resende levou 200 anos para atingir uma população de 100.000 habitantes. Em uma única década, esta população será o dobro. Isso é assustador. Há cerca de cinco anos já era sabido que Resende receberia uma montadora japonesa. A dúvida era se seria Toyota ou Nissan. Vieram duas: a Nissan e a sul coreana Hyunday. Ou você acha que todos os impactos decorrentes da instalação da Hyunday serão absorvidos apenas por Itatiaia? É certo que não. O local da festa da Hyunday é Itatiaia, mas quem irá pagar a conta é Resende. Sem infra-estrutura e com 20,6% da sua população vivendo em favelas (IBGE/2010) a situação de Itatiaia não permite ainda que esses novos moradores se acomodem por lá. Enquanto a população em favelas cresceu, entre 2000 e 2010, 36,7% na região metropolitana do estado, no interior este crescimento foi de 121%. O exemplo mais recente, a não ser seguido, é o de Macaé. Nos últimos dez anos a população de Macaé, vivendo em favelas, aumentou 70%, conseqüência de um crescimento cruel e desconectado com os princípios da sustentabilidade. E quando e petróleo deixar de ser alternativa viável? E quando as montadoras da Região das Agulhas Negras deixarem a região em busca da mão de obra barata da China e da África? Isso não foi objeto das ações citadas no jornal de propaganda do prefeito Rechuan.
Neste ano teremos eleições para prefeito. Muitos do que irão tentar a reeleição irão bater naquela velha e surrada tecla: “não fiz tudo aquilo que prometi porque estava arrumando a casa”. Não é verdade? Arrumando a casa, invariavelmente, é criando novos “cômodos” para abrigar os novos moradores (cabos eleitorais); realizando ações eleitoreiras, e não fazendo aquilo que deveria efetivamente ter sido realizado: preparar a cidade para a avalanche de novos moradores que estão chegando. Nada temos contra esses que estão chegando de fora (também sou da turma dos de fora), mas apenas queremos que eles vivam em uma cidade que sabe preservar a sustentabilidade social, ambiental e econômica. Fora disso, não é desenvolvimento, mas apenas anarquia.
Eliel de Assis Queiroz
Parabéns texto claro e esclarecedor,!
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