segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A visão da Mantiqueira, nosso olhar perto do céu

Uma das mais belas paisagens da região é a Serra da Mantiqueira ao longo da Via Dutra, desde Porto Real até São José dos Campos. Seu cume recortado emoldura campos e cidades, criando efeitos de luz, mobilizando nuvens e chuvas de verão que alimentam centenas (ou milhares) de cursos de água tributários do Rio Paraíba.

Na encosta da bela montanha a floresta protege suas encostas e vales. Nas partes mais altas dominam campos de altitude e afloramentos rochosos. Aqui e ali brilham cachoeiras. Feridas causadas por erosão e mineração podem ser vistas em alguns pontos, mas a linda paisagem predomina enchendo os olhos dos viajantes.

No entanto, o acelerado crescimento urbano e a industrialização do Vale do Paraíba vêm trazendo uma consequência paisagística bastante impactante, que é o encobrimento de significativa parte do perfil da serra.

Hoje, ao se percorrer a rodovia, a vista da montanha se encontra bastante fragmentada. O belíssimo cenário da planície verde fundida nas imponentes paredes serranas é cada vez mais raro. Em seu lugar, bairros e indústrias, com edificações que bloqueiam completamente a vista.

Não se trata, evidentemente, de propor a proibição de construções, mas de ponderar a distância e altura adequadas que estas devem ter para que o patrimônio paisagístico visto desde a rodovia não seja comprometido.

É urgente definir diretrizes de proteção à paisagem antes que a Via Dutra se transforme num corredor cercado de muros e paredes. Pode dar certo se for um trabalho integrado entre as prefeituras, com apoio dos governos estaduais.

Encerro com um trecho do Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro:

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”
 
 
Por  Luis Felipe Cesar / Colaborador do Blog

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