Desde o ano passado tenho observado com atenção os movimentos do governador do Paraná Ratinho Júnior. Discreto, mas estrategicamente bem posicionado, ele vem se consolidando como um dos nomes mais promissores para disputar a Presidência da República em 2026. E, sinceramente, faz sentido. O que ele entregou no Paraná o credencia, sim, a sonhar com voos mais altos.
Ratinho transformou o Paraná em um dos estados mais organizados e eficientes do país. Seu governo apostou em inovação, infraestrutura e responsabilidade fiscal — e colheu os frutos. O estado é hoje referência em conectividade nas escolas públicas, segurança alimentar, investimentos em energia renovável e parcerias com o setor privado. O agronegócio seguiu forte, mas ele também abriu espaço para a indústria tecnológica e start-ups. Em resumo: enquanto muitos estados enfrentavam crises, o Paraná avançava com planejamento e entrega.
Essa boa gestão não passou despercebida. Internamente, seu partido, o PSD, já deixou claro que ele é o principal nome para uma candidatura própria à presidência. Gilberto Kassab, presidente da sigla, disse com todas as letras: “Ratinho só não será candidato se não quiser”. E, ao que tudo indica, ele quer. Tanto que, em 2025, o PSD começou a divulgar seu nome nacionalmente, por meio de inserções em rede nacional. Ele já conversa com empresários, líderes regionais e se aproxima cada vez mais dos eleitores do centro e da direita.
Outro trunfo importante — e que não pode ser ignorado — é a força da popularidade do pai, o apresentador Ratinho, figura conhecida e carismática da televisão brasileira há décadas. Carlos Massa, com sua imagem consolidada no imaginário popular, pode ser um importante cabo eleitoral nessa tentativa de nacionalizar o nome do filho. Em muitas regiões do país, o “Ratinho da TV” ainda é lembrado com simpatia, principalmente nas camadas populares. Isso pode ajudar, e muito, a abrir portas para Ratinho Júnior fora do eixo Sul-Sudeste.
Mas é aí que entra o ponto crucial da discussão: o caminho até o Planalto é tortuoso.
Primeiro, há a questão da visibilidade nacional. Embora muito conhecido no Sul e em parte do Sudeste, Ratinho ainda é um nome pouco popular no Norte e no Nordeste. Ele precisará acelerar sua exposição, conquistar confiança fora do seu reduto e mostrar que sua gestão no Paraná pode ser replicada em escala nacional.
Além disso, o cenário político é instável e altamente polarizado. A direita ainda orbita em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro, e não se sabe se haverá espaço para um nome como Ratinho, que embora tenha perfil conservador, adota um tom mais moderado. Ele pode acabar espremido entre a lealdade bolsonarista e a resistência da esquerda. Ou pior: ser forçado a “escolher um lado” antes da hora, o que pode limitar sua construção de imagem como alguém que busca união e pragmatismo.
Ratinho Júnior tem potencial. É jovem, moderno, pragmático, tem resultados para mostrar — e, agora, também conta com o carisma de um sobrenome forte que pode impulsionar sua trajetória. Mas para chegar ao Palácio do Planalto, ele precisará sair da sombra do Sul e convencer o Brasil inteiro de que é mais do que um bom gestor estadual — que é também um líder nacional capaz de dialogar com diferentes forças e unir um país dividido.
Se vai conseguir? Ainda é cedo para cravar. Mas uma coisa é certa: ele entrou no jogo. E ninguém entra nesse jogo por acaso.
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