sexta-feira, 11 de julho de 2025

Uma guerra tarifária injusta e perigosa para o Brasil


O anúncio de Donald Trump sobre a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos veio como uma bomba. A decisão, que deve entrar em vigor no próximo dia 1º de agosto, é, no mínimo, temerária. E mais do que isso: é um gesto político disfarçado de medida econômica.

Trump, como já vimos tantas vezes no passado, usa a política comercial como ferramenta de vingança pessoal e retaliação ideológica. Neste caso específico, ele citou dois motivos principais para taxar o Brasil com tamanha agressividade: o desequilíbrio comercial entre os dois países (mesmo com os EUA tendo superávit nessa relação) e, mais absurdamente, uma tentativa de demonstrar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente envolvido em um processo judicial.

Sim, você leu certo. O candidato republicano decidiu punir economicamente o Brasil por conta de tudo o que envolve Bolsonaro. Ele chamou o processo contra ex-presidente de “caça às bruxas” e decidiu agir como se o Brasil ainda estivesse sob a sombra do bolsonarismo.

O impacto disso é grave. Para o agronegócio brasileiro, por exemplo — especialmente as exportações de carne, soja e café — a tarifa de 50% representa um golpe duríssimo. Esses produtos já enfrentam concorrência global, e qualquer aumento de custo pode significar perda de mercado imediato. Para a indústria, setores como aço, alumínio e até farmacêuticos também serão afetados.

O mais triste é que esse tipo de guerra tarifária não tem vencedores. O Brasil perde, claro — porque terá queda nas exportações, poderá enfrentar fuga de investimentos e verá seus produtos encalharem ou desvalorizarem no exterior. Mas os próprios consumidores americanos também sentirão. Afinal, preços mais altos nas prateleiras e aumento do custo de vida são inevitáveis quando se fecha o mercado com barreiras artificiais. Por outro lado, nas prateleiras brasileiras o preço pode vir a cair. Com a dificuldade em exportar os produtores tendem a jogar esse produto por aqui mesmo e isso cria muita oferta e consequentemente o preço deve cair. É o famoso: é ruim, mas é bom.

Como brasileiro, me incomoda ver o nosso país sendo usado como peão em um tabuleiro eleitoral americano. Trump não está preocupado com o equilíbrio comercial. Ele quer palco. Quer agradar sua base mais radical. E, nesse teatro, escolheu o Brasil como alvo — justamente agora, quando tentamos reconstruir relações diplomáticas e comerciais mais equilibradas e respeitosas com o mundo, mesmo o presidente Lula escorregando nas falas e ações por muitas vezes.

Lula já afirmou que o Brasil vai responder, se for necessário, com medidas equivalentes, mesmo que nessa guerra o país perca mais que os americanos, mas não é disso que precisamos. Não agora. Lula não entende isso e não gosta de ser contrariado. Ainda mais quando Bolsonaro está envolvido. O mundo vive um momento delicado, de inflação global, tensões geopolíticas e mudanças climáticas que exigem cooperação, não confronto.

Espero que esse gesto unilateral e perigoso seja revisto. Que o Brasil mantenha firmeza, mas também sabedoria. E que a gente consiga, apesar de tudo, proteger nossa economia — e principalmente os trabalhadores e produtores que mais sentirão os efeitos dessa tarifa que, na prática, não é contra um governo ou um presidente, mas contra o nosso povo.


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